29 junho 2009

27 junho 2009

Estou sempre a adiar-me.
Nunca chego a acontecer.

21 junho 2009

20 junho 2009

Depois à tarde passei no mercado da Praça de Espanha e reparei num grupo de 3 raparigas. Uma delas segurava uma mala pequena numa mão, que afinal era um pé.

19 junho 2009

Sonhei com uma peregrinação. Uma mulher, vestida de forma muito simples, percorria um longo caminho ao lado de uma estrada, mas percorria-o com os dedos, como quando fingimos que temos pernas nas mãos.

17 junho 2009

Então, tudo bem?
Reli o Master and the Margarita do Mikhail Bulgakov, um grande prazer.
(Excepto no estudo, reler não faz parte dos meus hábitos, por causa da sensação comum e fatal de que nunca vou ter tempo para ler tudo o que quero. Mas a expressão ler de novo é verdadeira e contradiz isto. tenho que acabar com a ansiedade, para poder voltar a alguns livros)

Fui passar a semana (com direito à ponte que faz esmorecer o país) ao Gerês. Nadei por cima de uma aldeia submersa, com oculos e tubinho para respirar. Tive medo e foi Maravilhoso.
Vi carvalhos gigantes, troncos e raizes retorcidos e antigos, cobertos de musgo, faias e bétulas enormes. Vi a luz e a sombra mudarem no chão com as árvores que mudavam por cima da cabeça.
(nestes dias fiz quase tudo o que está no post das 5 coisas que mais me fazem feliz. e mais não preciso de dizer. Que se lixe o país)

De volta ao trabalho com mil projectos para arrancar. Penso no que me trouxe aqui, para o que ficou instituido como o Serviço Educativo, no meu caso de um Teatro. Comecei a trabalhar nesta coisa da "mediação" das artes porque me desiludi com o meio, porque não tive coragem, porque nunca prestei como artista. E queria trabalhar com pessoas. Estar perto. Não queria vender nada (ingénua, pois, bem sei que o trabalho é mercadoria) Na escola estudei e pensei bastante sobre o que se definia como arte pública, como em portugal cheirava a mofo, as experiências comunitárias lá fora, lá fora, lá fora, e o diabo. As cidades, o urbanismo, o desenho das vidas pela arquitectura e o poder que nela se reflecte e se encena. A arte no espaço público e a relação com as corporações. Lia os situacionistas em apontamentos encontrados na biblioteca da cinemateca, porque quase não havia nada editado. Depois fui desistindo da acção, do manifesto quando pensei que a reificação dos desejos, das ideias, das utopias as tornavam passiveis de serem reabsorvidas pelo poder e devolvidas como produtos, com mais ou menos valor. Esta compreensão foi quase intuitiva ou empirica. Comecei a pensar que só no absurdo e na falta de sentido se poderia dar a verdadeira revolução, naquilo que não tinha forma. E que de qualquer maneira não fazia sentido a imagem do artista isolado a cuspir coisas, mais ou menos brilhantes mas com certeza inacessiveis para quem queria dizer. Pareceu-me então que a existência de um serviço dentro das instituições culturais que fizesse e pensasse possiveis pontes entre as comunidades locais e os objectos artisticos traziam em si a possibilidade de subversão, uma reflexão e acção sobre o meio em torno. Que a beleza ou o asco são experiências transformadoras que acarretam em si inumeras possibilidades. Que a verdadeira aprendizagem, integrada e significativa, poderia acontecer ai. Que nestes lugares se propiciasse a reflexão sobre a própria comunidade. Enfim. Mas quando explico o que faço e alguém me responde que fixe! corrigo imediatamente a utopia. continuo a acreditar em muitos dos projectos que programo ou nos quais participo...Mas... Além de passar metade do tempo embrulhada em burocracias o trabalho com a comunidade tornou-se uma moda. Os subsidios, de quem dependem artistas e instituições, estão para aqui virados.Na minha versão mais conspirativa diria que esta é uma alteração consciente, que acontece não só porque há aí um nicho de mercado mas também porque assim se mata a possibilidade de mudança à partida. Farto-me de receber propostas e ouvir directores de grandes instituições dizerem barbaridades, falando como se tivessem descoberto a polvora, como se estas experiências nunca tivessem sido feitas, falhadas, conseguidas e repensadas. E o dinheiro, assim dado, sem avaliação, pelo nomes e não pelo projecto que se apresenta, etc. etc. etc.não estimula o acontecimento, antes o faz esmorecer. A qualidade ausenta-se, as relações também e a comunidade passa a ser um produto, moeda de troca. O autarcas congratulam-se com o discurso de uma suposta envolvência do povão no seu projecto de futuro, através de projectos artisticos. Que passam a estar assim do lado do poder, servindo-o. Pergunto-me se farão alguma ideia da força que um trabalho a sério poderia realmente ter. Como poderiam ser postos em causa.
Não há um poder verdadeiramente corajoso.

(sobre tudo isto, ou roçando algumas destas questões, mas com muito mais referências e num pensamento articulado e inteligente, há um artigo do Gonçalo Pena no infinito ao espelho, um blog na barra aqui ao lado. é um escrito de artista.)

Nestes dias recebi a última Cabinet. Surpreende-me sempre. Esta estação é a da DECEPTION e até agora gostei muito disto . E do artigo do Christopher Turner, onde li sobre os jantares que o Kant organizava. Com regras de etiqueta muito rigidas, com gosto, eram encontros para discussão acesa de ideias que não poderia nunca esmorecer (e só poderaim acontecer no conforto do gosto?). Aqui, segundo o autor, o filósofo pode ter percebido, por antagonismo, porque é que, na linguagem, é o gosto (um sentido menor) que é usado para falar sobre uma obra de arte. Porque o asco (disgust) não tem representação. Lembrei-me da miss spring, que acho que muito me poderia explicar sobre isto, se nos conhecessemos e eu fosse a um jantar mas dela.

Agora estou a ler o Flesh and Stone, The Body and the City in the Western Civilization. Estou mesmo no ínicio, nas guerras do peloponésio e leio que os gregos usaram a sua percepção da fisiologia do corpo humano, especialmente a temperatura do corpo, como regulador social (na criação de regras de subordinação e regulação) e como motivo (não metáfora) para criar a(s) forma(s) da cidade. E claro, no berço da democracia as mulheres seriam frias e os homens calientissimos. E o calor é o que tem maior valor. Eles nus e erectos, a retórica e a ginástica a aquece-los e a enriquece-los. Elas na sombra das casas, vestida até aos pés. Pois.